Haribo, go f*ck yourself.

Tentei arranjar uma palavra bonita para dizer:

“Fui por hoje o aparelho de baixo, doem-me os dentes como nunca.”

Depois pensei nas gomas que já não vou comer, ainda bem, estive quase para fazer uma petição pública contra os stands de gomas em self-service que agora decidiram invadir os supermercados, mas não a assinava. Era o que faltava, assinar contra a venda livre e desenfreada de gomas. Só fazia a petição, depois lavava daí as minhas mãos. Como boa submissa que sou. Choninha, chamaram-me há pouco, e eu comecei a tirar o meu coração de quem me chamou choninha. Choninha a tua mãe, eu só sou submissa perante a doçaria e perante os de quem eu gosto. 

Não penso muitas vezes no ser adulta. Mas ainda há pouco tempo, não sei precisar quando, mas estava a abastecer-me num desses stands de gomas em self-service a repetir para mim mesma:

– Hoje é a última vez.

E estava uma pré-adolescente, talvez 11 anos, com um dentinho doce que nem eu, que a gente sabe reconhecer uma alma gulosa à légua, a babar a olhar para mim e devia estar a pensar:

– Que cabra.

Porque a pré-adolescência não é nem ingénua nem santa, e ela a babar e eu a pensar para comigo:

– Tenho quase a certeza de que fui promovida a role model desta gulosa em miniatura. Um modelo para toda a vida, ela a pensar, quando eu for grande, também vou comprar gomas sozinha, ninguém me vai proibir e vou comer todas de uma vez, como esta esbelta jovem com alguns cabelos brancos está a fazer. 

Não chego a saber a verdade. Certo é que amarrei o saco das gomas, atirei para o carro, como quem leva ali o comer nutritivo para a família, e agora os meus dias de role model acabaram. 

E os dentes doem-me como nunca.

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