Abuxarda

Comecei com esta história de blogues e coisas que tal desde o tempo em que andava com as disquetes embrulhadas em papel de alumínio para não desmagnetizarem no metro. Já nem me lembro do primeiro nome, mas devia ser a coisa mais estúpida do mundo. Depois arranjei este nome e achei bonito, até porque foi o Billy Corgan que inventou e na altura ele ainda fazia coisas decentes. Agora vai mudar, ainda não sei para quê, mas muda tudo, nome e link.

Só porque sim.

Solstício de Verão 

O meu terapeuta diz-me que devo sentir raiva de ti e eu não consigo perceber porquê, até porque tiveste com certeza algo imensamente importante para fazer e assim deixaste de responder-me, não por quereres, obviamente, tamanha essa atração por mim, nunca vi igual, nem tu. Se os realizadores de Bollywood sonhassem, este enredo, este Romeu e Julieta recriado, este gostar tanto de ti, esta apneia com uma duração superior à humanamente possível sempre que te vejo, viriam a correr, cheios de saris e incensos, saudações ao sol, ao hare  krishna, uma ou outra vaca sagrada, para contar ao mundo o nosso amor num filme cheio de frases curtas perfeitas para colocar em fotografias de paisagens e infestar todas as cronologias de gente minimamente sensível no Facebook.

Este gostar de ti.

O mais bonito do mundo

Estive uns dias sem ipad porque tenho um cão e sou estúpida. E como estúpida que sou, gosto de ouvir música no ipad, com os headphones que comprei no corte inglês, mas que são iguais aos que os fora-da-lei do 6 de maio usam – fanfarrudos, quentes que não se pode mais, um som mais ou menos, um ar de barracas imensurável – e o meu cão é carente e salta-me para o colo. E o ipad partiu. 

Acho que vi o teu braço ontem. Continuas a ser o mais bonito do mundo.

Som

DSCF3085   Gosto muito, muito, muito do Manel Cruz, tem o coração na boca, uma voz de sonho e não faz fretes. Este fim de semana vi o Manel. Também vi muitos outros músicos que admiro, estive com pessoas que admiro e de quem gosto muito e quase não me lembrei de ti.

Às vezes acho que sou injusta com as pessoas que gostam de mim, porque o amor que têm por mim (e a amizade é uma bela forma de amor) quase que me sabe a nada porque não tenho o teu.

Wrong time

“We met at the wrong time. That’s what I keep telling myself anyway. Maybe one day years from now, we’ll meet in a coffee shop in a far away city somewhere and we could give it another shot.”

Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004)

Prometes, Carlitos?

If you’re going to try, go all the way. Otherwise, don’t even start. This could mean losing girlfriends, wives, relatives and maybe even your mind. It could mean not eating for three or four days. It could mean freezing on a park bench. It could mean jail. It could mean derision. It could mean mockery–
isolation. Isolation is the gift. All the others are a test of your endurance,
of how much you really want to do it. And, you’ll do it, despite rejection and the worst odds. And it will be better than anything else you can imagine. If you’re going to try, go all the way. There is no other feeling like that. You will be alone with the gods, and the nights will flame with fire. You will ride
life straight to perfect laughter. It’s the only good fight there is.

Charles Bukowski

Sinto ainda ter no meu peito coisas tuas

Há uma música de Foge Foge Bandido em que o Manel Cruz sussurra, depois de, penso eu, 80 litros de vinho carrascão e de uma navalhada no coração e de uma tristeza sem fim e de uma melancolia e de uma solidão acompanhada. E de um querer-te a ti, eu, e de um não te querer, eu. E de uma solidão minha, e só minha.


As minhas saudades tuas – Foge Foge Bandido

tenho saudades tuas

isso eu sei porque eu sinto no meu peito essas ruas

nunca imaginei um amor assim
e agora até ficou real
mas isso trouxe coisas atrás
no momento de uma decisão percebes tudo o que o presente faz
mesmo querendo ter alguém eu quero ter-me a mim
mas meu amor
nenhum de nós deixará de ser real
passo por essas ruas
isso eu sei porque eu sinto ter ainda no meu peito coisas tuas

Migo

Talvez tenha de esquecer-te. Deixar que o tempo passe. Deixar que tu passes e que saias da minha cabeça. Ou que entres na minha vida.

Em todo o lado uma réstia de esperança. Não é muita, mas alguma, que me enche o peito e faz com que não me irrite com o batalhão de passarinhos que chilreia todos os domingos de manhã à minha janela do quarto, como se me trouxesse as boas novas quando na verdade só me acordam no único dia em que posso dormir até mais tarde. Filhos da mãe dos passarinhos. Não lhes sei a raça.

Também não conheço a tua, mas vou captar todas as coisas miseráveis sobre ti. São poucas, mas cambaleias a andar, tens uma voz pouco serena, escreves há sem agá e chamas “migos” e “migas” às pessoas que consideras tuas amigas. Que deixaste que entrassem na tua vida. Que fazem parte da tua vida.

 Se um dia me chamares “miga” nunca mais te olho para a cara, mas dava este mundo e o outro* para fazer parte da tua vida.

Nada mais há de execrável em ti.
* para não usar a brejeiríssima expressão “dava o cu e 8 tostões”

Amanhã à tarde 

Aqui há uns meses – muitos – lembrei-me daquela frase do Fernando Pessoa que reza mais ou menos assim:

“Eu nunca fiz senão sonhar”

Se não for assim é parecido e é o que eu quero dizer. 

E eu sonho muito, às vezes construo castelos no ar, luto muito para conseguir o que quero, o que preciso, o que eu acho que naquela altura, naquele momento, é o melhor para mim. Aqui incluo-te. Às vezes esmoreço. Aqui incluis-me.

Amanhã talvez vá ao endireita. Torci um pé numa corrida e dói-me ligeiramente.

Ontem não pensei muito em ti, mas sonhei. 

Lena Dunham – Não sou esse tipo de miúda

E agora chego até ele, completa e pronta para ser conhecida de modo diferente. A vida é longa, as pessoas mudam, nunca seria suficientemente tola para pensar o contrário. Porém, independentemente do que venha a acontecer, nunca será como antes. Tudo mudou de uma forma que soa trivial e quase roça o ofensivo quando se narra de forma descontraída. Nunca poderei voltar a ser quem era. Posso simplesmente limitar-me a observar essa outra eu com compaixão, compreensão e até alguma admiração. Ali vai ela, de mochila às costas, a caminho do metro ou do aeroporto. Fez o melhor que conseguiu com o eyeliner. Aprendeu uma palavra nova que quer experimentar contigo. Caminha devagar. Anda à procura.

Não sou esse tipo de miúda, Lena Dunham, Editorial Presença, 2015

Livros

A Bertrand das Picoas é das minhas livrarias preferidas. É exactamente igual a todas as outras Bertrand, não sei se os 4 anos que por ali passei influenciam a minha predileção, mas gosto especialmente de entrar lá. Esta semana entrei, olhei mais uma vez para o livro da autora do blogue Ana de Amesterdam. Gosto muito dos livros da Quetzal. Peguei no livro, dirigi-me à caixa, chego ao mesmo tempo de uma senhora de sapatilhas New Balance, cabelo preto comprido e liso, 1,65m, talvez. Apesar de eu só ter um livro na mão, a senhora pôs-se à minha frente, sem eira nem beira, senhora do seu nariz e dona do meu tempo. Perguntou stocks de milhentos livros e eu questiono-me onde andará o cuidado com os outros.

Devolvi o livro à sua mesa. Saí. 

Ontem foi o dia mundial do livro e eu ia jurar que esse livro me faz falta. Mas ando a ler isto:

  

Bullshit

Riscaram-me o carro.

O meu cão fez xixi dentro de casa.

O mesmo partiu-me os óculos de sol.

O mesmo já havia partido os meus óculos de ver.

Não é feliz quem quer, é quem pode.

Mas onde é que estás?

Já virei o teu mapa astral, inspeccionei-o de cima para baixo, casas, signos, trígonos, quadraturas, meio do céu, ascendente, descendente. Fiz o mesmo com o meu. Juntei os dois, o meu e o teu, só não fiz contas de cabeça, o meu vénus em cima da tua lua, ou sol, qualquer coisa, prognósticos acertadíssimos que auguram sucesso, nós os dois, é provável que tenhamos filhos, não um, não dois, eu quero três. Tenho a certeza. 

Absoluta, absoluta, absoluta.

Chanfra

Quando eu era pequena, pequenina, quando ouvia o que a minha avó dizia, o que a minha mãe dizia, o que as minhas tias diziam, o que a chanfra da minha prima Leonor dizia, pensava sempre que isto de crescer havia de ser uma grande chatice.

Cresci. Com a excepção da chanfra da prima Leonor, tudo o que as mulheres da minha vida diziam tornou-se inerente à minha forma de pensar, às vezes, de agir, mas sempre achei que, ao contrário do que diziam, se podia confiar em todas as pessoas do mundo. Enganei-me.

Cresci.

Não tenho paciência para os erros dos outros, mas também tenho dificuldade em começar a ver os erros. Nos entretantos, nas comiserações e coitidificações sou muito filantrópica. Preocupo-me com os outros, com o bem-estar dos outros, não me esqueço das datas importantes das vidas deles, lembro-me de pormenores que poderão ter que ver com a predileção da cor ou desgosto gastronómico. Gosto de o fazer. Parte porque gosto que mo façam.  Lixo-me sempre.

87 dias

Ou 86 ou 88, não sei bem, mas são os dias que estive sem te ver.

Não tem sido fácil explicar porque é que ainda te quero ver, não é fácil perceber que tenho saudades tuas, não é fácil achar que somos mais do que estranhos quando da última vez que estivemos juntos, olhámo-nos nos olhos duas vezes. Toquei-te nas costas uma vez. Tocaste-me nas costas uma vez. Estivemos sempre ao lado um do outro a trocar quase palavra nenhuma, inspeccionei todos os caracóis do teu cabelo, estive quase a sentir-te o cheiro, falámos pouco, nada, nós os dois, de cara fechada, o mundo nos teus olhos, lado a lado, segura, eu, a pensar:

– Se cair uma bomba a um metro, tenho a certeza que nem levo com os estilhaços.

87 dias.

Hoje vi-te.

Esqueci-me de respirar.

How to win love

 “I will tell you how to win love: Wear nice clothing and smile all the time. Learn the words to all the latest songs” – K. Vonnegut

Nem o Kurt nem eu garantimos o sucesso desta fórmula. Mas não custa tentar.

Eu já tentei. Esteve próximo, mas mehhhh.

Vício

“I was so disappointed you didn’t want me

Oh, how could it be, Eurydice?

I was standing beside you by a frozen sea

Will you ever get free?


Just take all your pain, just put it on me

So that you can breathe

When you fly away will you hit the ground?

It’s an awful sound”

Awful Sound (Oh Eurydice) – Arcade Fire

Analogia

Uma das coisas mais difíceis/ humilhantes/ dolorosas é cair no meio das silvas. Para o citadino mais hardcore, as silvas são uns arbustos que dão amoras e que picam que se fartam, digamos que o correspondente ao arame farpado da natureza. Quando um indivíduo cai nas silvas, dificilmente se levanta sem ajuda. Se estiver sozinho, lá terá de o fazer. A agonia é grande. Se estiver acompanhado, o espectador que lhe dará a mão terá ataques de riso, talvez de piedade, talvez de gozo, talvez de alegria por não caído nas silvas. A humilhação é grande.

Cair nas silvas é das melhores (maiores) lições de humildade que alguém há-de ter.

Isso e chegar aos 33 anos e verificar que não se chegou a lado algum. E quando se está sozinho, a agonia é grande. Quando se está a acompanhado, é como se não estivesse.

 

Stupid lumberjack you

  

Isto estava no Twitter do Banksy. Não sei se foi ele que escreveu se copiou. Se é dele a conta no Twitter ou se é daquele outro charlatão que não me lembro do nome mas que até acho alguma piada.

Às vezes ponho-me a planear mil e uma coisas para me “livrar” do que não existe efectivamente, mas existe na minha vida. Uma cena meio imaterial, mas material no que eu vivo.

Mas está a parecer-me que não me livro disto.

Analogia

Aquelas pessoas que são acérrimas defensoras da língua portuguesa, que refutam o novo acordo ortográfico, uma afronta a esta nossa língua de Camões, e que escrevem voçê. 

All the wine is all for me

 

Os últimos dias da minha semana foram isto. 

Porque há coisas que nós fazem ver que vale a pena continuarmos a sonhar. Porque há coisa que nos surpreendem. Porque há coisas que nos fazem ver que vamos no caminho certo. Porque o amor que temos por uma pessoa que não nos quer não tem de ser um sofrimento. Porque há coisas que sentimos que valem a pena, mesmo quando toda a gente à volta acha que não. E porque vão mesmo valer a pena. 

Haribo, go f*ck yourself.

Tentei arranjar uma palavra bonita para dizer:

“Fui por hoje o aparelho de baixo, doem-me os dentes como nunca.”

Depois pensei nas gomas que já não vou comer, ainda bem, estive quase para fazer uma petição pública contra os stands de gomas em self-service que agora decidiram invadir os supermercados, mas não a assinava. Era o que faltava, assinar contra a venda livre e desenfreada de gomas. Só fazia a petição, depois lavava daí as minhas mãos. Como boa submissa que sou. Choninha, chamaram-me há pouco, e eu comecei a tirar o meu coração de quem me chamou choninha. Choninha a tua mãe, eu só sou submissa perante a doçaria e perante os de quem eu gosto. 

Não penso muitas vezes no ser adulta. Mas ainda há pouco tempo, não sei precisar quando, mas estava a abastecer-me num desses stands de gomas em self-service a repetir para mim mesma:

– Hoje é a última vez.

E estava uma pré-adolescente, talvez 11 anos, com um dentinho doce que nem eu, que a gente sabe reconhecer uma alma gulosa à légua, a babar a olhar para mim e devia estar a pensar:

– Que cabra.

Porque a pré-adolescência não é nem ingénua nem santa, e ela a babar e eu a pensar para comigo:

– Tenho quase a certeza de que fui promovida a role model desta gulosa em miniatura. Um modelo para toda a vida, ela a pensar, quando eu for grande, também vou comprar gomas sozinha, ninguém me vai proibir e vou comer todas de uma vez, como esta esbelta jovem com alguns cabelos brancos está a fazer. 

Não chego a saber a verdade. Certo é que amarrei o saco das gomas, atirei para o carro, como quem leva ali o comer nutritivo para a família, e agora os meus dias de role model acabaram. 

E os dentes doem-me como nunca.

Time heals, time changes



Os tempos têm sido de mudança de perspectivas. Perceber que não há quem seja feliz por mim, perceber que não há quem se compadeça muito com a infelicidade alheia a não ser que alimente uma Schadenfreudezita, perceber que não posso fazer com que alguém goste de mim, mas se eu quiser continuar a tentar a opção é minha. Porque continuar a tentar é uma opção tão válida como desistir. 

E se isto parece catástrofe à vista, eu ando quase feliz porque sigo o que quero com a informação toda, com a consciência plena de que isto pode descambar, mas confiante de que não vai. E não vai mesmo. 

Vale uma aposta? 

All too sore for sound.*

Ter a casa quase toda para arrumar, um cão hiper-activo, hiper-activo à séria e não hiper-activo como as crianças que, coitadas, só querem brincar, o carro a pedir revisão e não ter o livro da revisão, ter compras para fazer e pouco sítio para arrumar, a roupa toda passada a ferro e só eu sei o que me custa ter a roupa toda passada a ferro, ter a orelha direita a arder e diz o ditado popular que é alguém que nos trai, como se não fosse suficiente que a traição me tenha já fodido o coração e a cabeça ainda me fode a orelha, vermelha como um tomate.

Grandes putas.

Fazer de conta. Fazer de conta porque já não se aturam lamúrias, já não se aturam queixumes, viver em permanente estado Prozac porque não há paciência para as minhas lamúrias. Mas, no fundo no fundo, nem eu tenho paciência para as minhas lamúrias. Tentar ser feliz. Com o que tenho de perfeito. Esquecer-me do imperfeito e querer ter mais, ainda mais. No meio das imperfeições que eu sou, do pouco que sou, do muito que sou, ser eu.

E correr mundo.

* Bon Iver – Wash

Nananinanão



Vai estar o mundo inteiro. Umas 40 pessoas a falar ao mesmo tempo, a comer de boca aberta, a beber sofregamente não vão as cervejas acabar e depois?

Vai estar toda a gente menos tu.

Parece-me que não vai ninguém.

Ensinamentos

The world you see is just a movie in your mind.
Rocks dont see it.
Bless and sit down.
Forgive and forget.
Practice kindness all day to everybody
and you will realize you’re already
in heaven now.
That’s the story.
That’s the message.
Nobody understands it,
nobody listens, they’re
all running around like chickens with heads cut
off. I will try to teach it but it will
be in vain, s’why I’ll
end up in a shack
praying and being
cool and singing
by my woodstove

making pancakes.

Jack Kerouac, aqui: http://www.brainpickings.org/2014/03/12/jack-kerouac-golden-eternity/

Vou fazer panquecas.

Quero uns Stan Smith

A gravata não é preciso. O meu quadril largo não permite que este tipo de calça me assente como deve ser.

Este é um dos passatempos de mulheres, também de alguns homens, mas é pelo menos um dos meus. Ver roupa, chorar por dentro quando a roupa mesmo a calhar e bonita não nos assenta que é uma beleza. São dramas. Ontem vivenciei um drama com o qual muitos homens devem deparar-se ao sábado de manhã, que é todos os sítios para lavar o carro (elefantes azuis e coisas que tal) estavam cheios de homens de família a lavar os respectivos carros, uns à espera, outros a bufar, tudo para lavar o carro. Achei fofo. Ver roupa que não nos fica a matar é o mesmo passatempo.

Há mais coisas que distinguem enormemente os hábitos e costumes das mulheres e dos homens. O mesmo acontece com os direitos, infelizmente com um claro prejuízo para as mulheres e bastante mais grave, mas que, de certa forma, parece estar enraizado na sociedade em que vivemos. E é neste ponto, só neste ponto, que deveremos lembrar e comemorar hoje o dia da Mulher. Nos outros 364 dias do ano, deveremos lembrar e acima de tudo defender os direitos das Mulheres.